20 outubro, 2006

Aprendendo a desaprender

Martha Medeiros

Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros. Tens que aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender... praticamente tudo.

Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê-las melhor, mais rápido, mais vezes. Vida é constante aprendizado. A gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra tirar nota dez no quesito "sabe-tudo". Pois é. E o que a gente faz com aquilo que a gente pensava que sabia?

As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los: tudo é bem-vindo na infância. Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os dias passam cheios de oportunidades.

A solução é voltar ao marco zero. Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar.

18 outubro, 2006

Meu Shakespeare!

10 outubro, 2006

Sono velado

Um lindo salão - estilo art déco. Um belo caixão - ébano, prata.
Cadeiras nos dois lados do ataúde, algumas pessoas sentadas, chorando; outras de pé, conversando. Todos trajando negro.
Sem muita consternação, a razão traz a inevitabilidade dos fatos.
As únicas flores trazidas são copos-de-leite. Os cálices brancos destacam-se no sombrio cenário, iluminado por suaves luzes, amarelas e indiretas.
É inverno, mas as pesadas cortinas de veludo isolam o ambiente, deixando apenas a gélida falta invadir os corações que ainda batem.
Além do murmúrio, apenas Nocturne in E flat, Op. 9 No. 2, de Chopin.
Vestido preto, reto, alinhado, ajustado, uma rosa vermelha entre as mãos frias.
Pálida, serena, misteriosa - eu e a morte.

03 outubro, 2006

2 Meses

Vou pra cama só, mas feliz,
pois te levo comigo.
Levo o pouco doado e roubado que possuo,
mas que é só meu.

O tempo só serve para nos darmos conta
de que não vivemos em vão,
que fizemos, fomos, somos.

Cronologia só serve pra isso, formalidades.
Te amo, e isso vai além de qualquer medida.

02 outubro, 2006

The top

As Horas

Amor, não fique triste
Se um dia acordares e eu não estiver ao seu lado
Se um dia abrires meu guarda-roupa e estiver vazio
Nem o Sol é eterno.

Amor, não fique triste
Se um dia eu partir
Se tudo acabar
Nem a Lua é eterna.

Amor, não fique triste
Se um dia me ligares e eu não atender
Se olhares à sua volta e só restar meu perfume
Nem o Universo é eterno.

Amor, não fique triste
Lembranças sempre ficarão
Querendo ou não
Fotos, objetos esquecidos, sombras de um passado.

Mas amor, não fique triste
Sempre teremos as horas que passamos juntos.